O economista carioca José Alexandre Scheinkman (Foto: Divulgação )
No mundo dos pesquisadores, especialmente os teóricos, há duas medidas de sucesso: a primeira é ter seus artigos acadêmicos publicados pelas melhores revistas científicas do mundo. A segunda é ter esses artigos citados por outros pesquisadores. O brasileiro José Alexandre Scheinkman, 74 anos, professor da Universidade Columbia, em Nova York, não pode reclamar de nenhum dos dois quesitos. Seus mais de 200 papers já saíram em títulos como The Journal of Economic Theory, The Review of Financial Studies e Journal of Financial Econometrics. E, até agora, seus estudos foram citados, segundo o Google Scholar, mais de 46 mil vezes.
Economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com mestrado pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), o carioca Scheinkman concluiu um segundo mestrado e mais o doutorado na University of Rochester, nos Estados Unidos, em apenas três anos. Tinha pouco mais de 25 anos quando foi contratado pelo prestigiado Departamento de Economia da Universidade de Chicago, de onde saíram 33 ganhadores do Prêmio Nobel de Economia. Conviveu e virou amigo de alguns deles. Também pode colocar no currículo que foi orientador no PhD de um Nobel de Economia, o americano Paul Romer (2018) e de outras estrelas globais da disciplina.
Embora tenha construído sua vida profissional (depois de Chicago, foi para Princeton e, agora, Columbia) e pessoal (desde 1969, é casado com a americana Michele Zitrin, com quem tem um filho e duas netas) nos Estados Unidos, Scheinkman mantém laços com o Brasil. Dias antes desta entrevista, feita por Zoom da sua casa em Nova York, nadou nas águas do rio Tapajós durante encontro do Amazônia 2030, uma iniciativa de pesquisadores brasileiros para a criação de um plano de desenvolvimento sustentável para a região.
Scheinkman é coordenador sênior do movimento e, das seis pesquisas com as quais está envolvido atualmente, esta é a que mais tem recebido sua atenção. “O Amazônia 2030 é uma tentativa de criar uma estrutura econômica que, ao mesmo tempo, preserve a floresta e dê às pessoas uma renda melhor”, diz. Outras ligações com o Brasil são sua participação no conselho de administração da Cosan, a torcida pelo Flamengo e amigos próximos, como Marcos Lisboa, presidente do Insper. Na entrevista a seguir, ele fala sobre seu amor pela literatura (que lê no iPad, durante os deslocamentos de metrô em Manhattan) e sobre os cuidados que toma para viver bem.
Como é a sua rotina atual?
Eu trabalho full time, tanto quanto sempre trabalhei. Ensino um pouco menos na sala de aula, mas tenho alunos, faço pesquisa em tempo integral, vou a conferências e escrevo. Sou um dos editores do Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (a PNAS, publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, foi lançada em 1915), que é uma das revistas científicas mais importantes do mundo. Avalio artigos para serem publicados na área de Economia. Além das atividades acadêmicas, também atuo nos conselhos de administração da Cosan e da TAG (ligada ao grupo Stone, a empresa que cria infraestrutura para o mercado financeiro).
Você tem orientandos de PhD em Columbia?
Tenho menos do que tinha em Chicago porque minha carreira foi mudando. Eu comecei (em Chicado) orientando muitos alunos e tive alguns superbrilhantes. Tem o Paul Romer, que ganhou o Prêmio Nobel [Romer concluiu o PhD em Chicago em 1983 e recebeu o Nobel em Ciências Econômicas de 2018, juntamente com William Nordhaus; é professor de economia na New York University]. Tem o Albert (Pete) Kyle, que foi um dos criadores da chamada microestrutura do mercado financeiro [Kyle completou seu PhD em Chicago em 1981 e lançou sua teoria em 1985; é professor de finanças na Universidade de Maryland]. Tem o Edward Glaeser [Glaeser concluiu seu PhD em Chicago em 1992 e atualmente é professor de economia em Harvard], que revolucionou a economia urbana. E também alunos em Princeton, como o Aureo de Paula, um brasileiro, professor da University College London [Aureo concluiu seu PhD em Princeton em 2002], e o Glen Weyl, que está na Microsoft [Weyl concluiu seu PhD em Princeton em 2008; é economista e pesquisador da Microsoft Research New England e co-autor do livro Mercados Radicais – Reinventando o capitalismo e a democracia para uma sociedade justa].
José Alexandre Scheinkman (Arte: Clayton Rodrigues )
Você consegue pegar um aluno hoje e dizer “esse aqui é diferente, vai produzir alguma coisa boa para a humanidade”?
De certa maneira, mas não com certeza. Primeiro, porque pego o aluno num estágio em que não dá para saber se ele ou ela vai ser capaz de fazer o que está ambicionando fazer. Em geral, pego um aluno no primeiro ou no segundo ano do doutorado. Alguns fazem até mais do que você espera e outros que, infelizmente, fazem menos. Evidentemente, com alunos como Paul Romer ou Edward Glaeser eu descobri imediatamente que eram pessoas incrivelmente brilhantes. Isso é parte do que os torna, eu acho, economistas de grande destaque, mas não é tudo porque tem gente muito brilhante que não consegue realizar. Pesquisa não é um negócio que você faz uma hora por dia, não funciona assim. É um trabalho persistente, que exige dedicação e muito tempo.
Como orientador, qual é o seu papel quando pega uma “jóia bruta”?
Tem uma coisa que digo muito cedo para os meus alunos: economia, mesmo feita em um nível teórico muito elevado, e alguns dos meus trabalhos são muito teóricos, tem que ser motivada por questões práticas, senão ela fica vazia. Obviamente, eu dou aula, dou papers para ler, leio os papers deles, faço comentários. O mais importante para mim é motivá-los a pensar em economia da maneira que eu pensei toda a minha carreira: não importa quão teórico o trabalho que você esteja fazendo, ele tem que ser motivado por uma questão importante na economia, caso contrário fica um ‘comentário sobre o comentário do comentário’. Tem que usar a literatura, que é muito importante, mas tem que ter na cabeça um problema interessante na economia.
A idade e a experiência trazem alguma vantagem para o pesquisador?
Tem certas coisas que eu sei mais, que eu faço mais. Há muitos anos eu estava em Santa Fé (capital do Novo México) com um grupo reunido pelo Kenneth Joseph Arrow, grande pensador e economista do século 20 [ganhador do Nobel de Economia em 1972, morreu em 2017] e pelo físico Philip Anderson [ganhador do Nobel de Física em em 1977, morreu em 2020], que depois foi o meu colega em Princeton. O Arrow era um cara brilhante, mais velho e comecei a notar que era muito rápido. Quando eu fazia uma pergunta, mesmo que eu tivesse pensando naquele problema pela primeira vez hoje, ele já tinha contribuições a fazer. Essa é a vantagem da idade para quem continua ativo. Muitas ideias já passaram pela sua cabeça, você nem se lembra quando, mas sabe que já pensou naquilo.
O que você sabe hoje que gostaria de ter sabido aos 40?
Além do fato de que a Apple e a Amazon virariam o que viraram? Brincadeira. Fora isso, balancear um pouco mais a minha vida. Quando tinha 40 anos, já lia muito. Sempre ficção. Não leio não-ficção, exceto para o trabalho. Naquela época, aprendi que fazer exercício era importante e foi uma coisa que mudou a minha vida durante os anos. Aprendi que o tempo que você dedica à sua família traz uma recompensa muito grande. O tempo que você dedica aos amigos também traz uma recompensa muito grande. Hoje tenho uma vida mais balanceada do que eu tinha naquela época, embora eu ainda trabalhe muito.
Que tipo de ficção você lê?
Gosto de literatura. Eu tive a sorte de fazer o Colégio Dom Pedro II, onde uma professora de português que me ensinou a ler e a absorver o texto. Na época, ela me apontou autores brasileiros modernos dos anos 1920, 1930, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade etc.. Isso para mim foi uma descoberta. Eu já lia, mas não tinha essa capacidade de entender o que estava lendo. Eu gosto de livros que têm estilo, que vão além da história. Literatura de verdade.
Que conselho você daria a um jovem de 20?
Você tem que fazer aquilo que tem talento e gosta. Tem que ter talento e tem que gostar ao mesmo tempo. E tem que esquecer aquilo que os pais esperam de você ou que os professores no colégio esperam de você ou que os amigos esperam de você. E tomar risco. Não pense em recompensa imediata, vai demorar um certo tempo para dar resultado. Eu estou falando, evidentemente, das pessoas que têm essa oportunidade que eu tive, que, infelizmente, são poucas.
Chicago é a escola que mais recebeu prêmios Nobel de Economia no mundo. São 33 entre 1970 e 2021. Como é estar nesse ambiente com os maiores pensadores do seu ramo?
O pessoal de Chicago leu a minha tese de doutorado e me fez uma oferta para professor assistente. Lá, eu interagi com pessoas como o Robert Lucas (Robert Emerson Lucas Jr. ganhou o Nobel de Economia em 1995), que foi um sujeito muito importante para a minha carreira, uma espécie de mentor. Eu era muito amigo do Gary Becker, que também ganhou o Nobel (1992) e ainda sou muito amigo tanto do James Heckman (2000) quanto do Lars Peter Hansen (2013). E os alunos eram brilhantes. Eu não podia imaginar um lugar melhor para ser um jovem professor. Depois eu tive a sorte deles me ofereceram uma posição permanente muito rapidamente, em menos de cinco anos. Vou a Chicago frequentemente porque ainda trabalho com o Lars Peter Hansen. É um ambiente intelectual muito rico.
Eu estava olhando o seu currículo no site de Columbia e vi que você tem centenas de artigos científicos publicados, mas só dois livros…
E não são livros de verdade…
Por que não escrever livros?
Se você quer fazer uma carreira de pesquisa em economia, é premiado por publicar artigos nas revistas mais importantes. O livro vem depois. Um dos “livros” que eu tenho é o Speculation, Trading and Bubbles, resultado de uma palestra que dei em Columbia, como convidado da Arrow Lecture, antes de ser professor aqui. Nessa lecture, os convidados têm a obrigação de escrever uma monografia e a minha foi lançada em 2014 dentro da Kenneth J. Arrow Lecture Series, pela Columbia University Press. O que conta são os papers.
Você não tem vontade de escrever livros?
Olha, não sei se eu tenho ou não tenho. Não é a questão. Eu ainda sou um pesquisador muito ativo, então, o meu problema é escrever papers. Estou com seis projetos em andamento, que vão virar artigos em revistas científicas. É o modo como a economia, principalmente a economia teórica, a economia acadêmica trabalha.
Como é o seu envolvimento com o projeto Amazônia 2030?
Tem duas coisas que eu faço em relação ao projeto. Uma é participar da discussão geral de todo o projeto, que é enorme, tem muitos acadêmicos e não acadêmicos envolvidos. E também trabalho com o Juliano Assunção [professor associado da PUC-Rio, diretor executivo da Climate Policy Initiative Brasil, um dos coordenadores do Amazônia 2030 e economista especializado em clima] e com Lars Peter Hansen para tentar pensar uma maneira ótima de preservar a floresta versus usá-la para atividade agrícola, que é muito ineficiente na Amazônia, poderia ser mais eficiente. E a Amazônia não é homogênea, há grandes diferenças entre as regiões. Isso torna o problema mais complicado porque precisamos pensar não apenas no quanto queremos preservar, mas no quanto queremos preservar e onde é melhor preservar. Dos meus seis projetos, este que é parte do Amazônia 2030 é o que estou passando mais tempo.
Essa pesquisa vai gerar um paper? Para quando?
Ela vai gerar, provavelmente, mais de um paper. O approach que a gente teve que adotar é bastante novo. Falamos sobre economia, sobre absorver a ecologia na economia, mas também do ponto de vista computacional. Tem muita questão interessante que a gente não vai conseguir atacar no mesmo paper.
Aqui no Brasil, a Amazônia tem sido um assunto recorrente: o quanto nós estamos destruindo, queimando, devastando e tudo mais. Como essa questão da Amazônia está sendo vista pelos acadêmicos aí dos Estados Unidos?
A imagem é muito negativa. Estou com medo por causa do comportamento do Brasil em 2018 pra cá. A Amazônia é um recurso importante para o mundo. Os governos do Fernando Henrique Cardoso, do Lula e da Dilma colocaram o Brasil como líder nesse campo. Mesmo que não estivessem fazendo tudo certo, a opinião do Brasil era importante. O país era uma presença em todos os fóruns em que se discutia o assunto. E agora temos um governo que realmente quer que a Amazônia vire uma grande mina ou uma grande fazenda de gado. Está claro nesse trabalho que estamos fazendo que deveríamos preservar muito mais, mas também tem a questão da restauração que é muito importante.
O que essa imagem negativa significa na prática?
Veja o que acontece nas discussões da National Academy of Sciences nos Estados Unidos, que é a instituição científica mais importante dos Estados Unidos, da qual eu participo. Nós temos um endowment (fundo) de 600 milhões de dólares que deve ser investido em projetos de pesquisa. Estou no comitê que toma as decisões sobre quem vai empregar o nosso dinheiro. E não aprovamos investimentos prejudiciais ao meio ambiente. Então, tudo o que tem Brasil no nome é olhado com cuidado, mesmo que haja companhias brasileiras excelentes em termos do clima. Eu, claro, tenho uma ligação com a Cosan, mas ela é a única companhia no mundo que produz Etanol 2G (bioetanol, também conhecido como etanol de segunda geração, obtido por meio da fermentação controlada e da destilação de resíduos vegetais, como o bagaço da cana-de-açúcar, a beterraba, trigo ou o milho), com zero impacto climático. Tem também a Natura e outras companhias que fazem um trabalho muito bom. Mas, infelizmente, a gente tem que ficar explicando para o mundo. Isso dá trabalho. Eu estou preocupado porque não é apenas ruim para o Brasil, mas muito ruim para a imagem do Brasil. Torna mais caro todo o investimento que o Brasil faz. Ao contrário, temos uma base que poderia nos tornar uma grande potência sobre o clima.
Como um economista teórico convive com o mundo dos negócios dentro de um conselho de empresa? Qual é o seu papel lá?
Estou na Cosan desde que ela abriu o capital nos Estados Unidos em 2010. Eu acho que tem duas coisas em que os economistas são bons. Primeiro, eu entendo a lógica econômica das coisas, eu penso muito. Aquele conselho que eu dou aos meus alunos, eu dou a mim mesmo, de ver a economia na prática. Eu sou uma pessoa que pensa muito no que está acontecendo no Brasil. Eu acompanho bastante. O Brasil não é só um desastre sob o ponto de vista do meio ambiente, é um desastre econômico também. Eu penso muito no que acontece nos Estados Unidos, porque eu vivo aqui. Eu converso com economistas do mundo inteiro, sei o que está acontecendo. A outra coisa é que sou muito de pensar em problemas; parte do meu trabalho é em finanças, parte não é útil no dia a dia, mas parte é. Eu sempre digo: eu sou motivado por questões reais. Isso torna fácil a conversa com pessoas mais práticas.
Queria que você falasse um pouco sobre a economia global. O que você está esperando para o futuro?
A economia global tem dois problemas sérios atualmente. Primeiro, a Covid ainda não está completamente dominada. A China ainda tem problemas com a doença, e quando a China, por necessidade de saúde, o que eu entendo, diminui a atividade econômica, afeta a economia mundial. O segundo problema, ainda mais grave, é a invasão russa na Ucrânia. É grave porque não está claro o que vai acontecer na Europa no inverno. O Putin vai ficar tentado a cortar o fornecimento de gás no pior momento. Isso seria um tiro no pé porque os europeus entenderam que não podem depender do gás russo, mesmo depois, se houver uma paz.
Se você fosse elencar as três questões para a gente se preocupar em 2023, quais seriam?
Não são apenas para 2023, continuarão importantes no longo prazo. Primeiro, a questão do clima. Ligada à questão do clima está a questão da alimentação, porque há uma competição entre o alimento e o clima. É preciso restringir a fronteira agrícola em regiões com valor muito importante para a estabilidade climática. A gente tem que encontrar uma solução para as duas coisas. Isso passa por intensificar e melhorar a produção agrícola ao mesmo tempo em que não se expande tanto a fronteira agrícola – ou até reduz. Não é só o caso especial do Brasil, mas estou falando de outros lugares que precisam recuar a fronteira agrícola. Não podemos ter um mundo em que falta comida, evidentemente, e essa guerra piora a questão da comida, porque a Ucrânia é um celeiro importante para o mundo. A terceira questão é como nós vamos retomar o crescimento de uma forma mais equitável em todos os países do mundo. Nós tivemos um crescimento que de certa maneira aguçou certas diferenças ou até deixou para trás alguns países. A questão da desigualdade, quando um grupo se dá muito melhor do que o outro, é um problema. E é pior quando tem um grupo se dando bem e o outro se dando pior – aí é um problema social mais sério.
Como é envelhecer nos Estados Unidos?
Nova York é uma cidade muito boa para isso, porque nós temos um transporte público maravilhoso.
Você não tem carro?
Não tenho carro, alugo quando preciso. Eu moro em Manhattan, no Park Avenue South, que é a parte mais ao sul da ilha, na 23. Eu atravesso a ilha pra dar aula em Columbia, mas vou de metrô. Como gosto muito de literatura, vou lendo no iPad. E sou uma pessoa que faz exercícios todos os dias. Nado duas ou três vezes por semana e tenho um treinador para musculação duas ou três vezes por semana. Nos outros dois dias, alterno entre aeróbico com corrida ou bicicleta estacionária. Quando eu estive na Amazônia, no Tapajós, eu nadava mais de uma vez por dia. É um espetáculo lá. Estava à beira do rio, nadava um pouquinho de manhã e de tarde. Também corri um pouco.
E a alimentação, como você se cuida?
Eu sou bem rigoroso com a alimentação. Gosto de comida que faz bem para mim. Não quer dizer que… adoro ir a uma churrascaria e comer um steak de vez enquanto. Gosto de várias comidas que não são “boas”, gosto de um bom restaurante, beber e tal, mas não faço todo dia. O meu almoço é uma salada, um ovo cozido, um pouquinho de sopa. Gosto de comida saudável.
Como é a vida de avô?
Gosto muito, gostaria de vê-las ainda mais do que vejo. A primeira coisa que fiz quando eu voltei do Brasil foi jantar com o meu filho e a mulher dele. As crianças são pequenas, uma tem dois e a outra tem quatro anos.
Alguma indicação de livro que você leu recentemente?
Olha, não é uma indicação fácil, é um livro difícil, muito longo, mas um espetáculo. É o livro da Olga Tokarczuk, que ganhou o Prêmio Nobel em 2018, chamado The Books of Jacob (ainda sem tradução para o português). É um livro baseado num personagem real, mas que tem uma força literária muito grande. É uma grande literatura, não é só contar história.
De outra maneira completamente diferente, eu recomendaria o livro do (Benjamín) Labatut When We Cease to Understand the World (“Quando deixamos de entender o mundo” foi lançado no Brasil pela editora Todavia). É um livro que conta a história de quando nós paramos de entender o mundo no século 20 por causa dos avanços na ciência. Esse livro é um grande sucesso. O cara é jovem, foi o primeiro livro dele traduzido para o inglês.
Os professores brasileiros reclamam que os seus alunos não lêem mais. Os seus alunos lêem?
Os meus alunos lêem. Lêem coisas diferentes, mas os meus alunos e ex-alunos lêem muito. Os meus colegas jovens em Columbia também. Eu tenho um colega francês com o qual converso sobre livros e artes. Ele já leu Benjamín Labatut. Aliás, eu li esse livro por recomendação do João Moreira Salles (cineasta brasileiro).
Você se sente mais brasileiro ou americano?
Olha, eu vou dizer o seguinte: todo domingo, eu quero saber como o Flamengo foi. Não tenho interesse em nenhum clube esportivo americano.
Você não assiste futebol americano?
Não conheço futebol americano. Houve uma época, quando eu estava em Chicago e o Michael Jordan jogava basquete no Bulls, que era impossível não ficar envolvido naquela história. O meu filho era muito pequeno e as crianças se interessavam.
Tem vontade de voltar a morar no Brasil?
Não. Há muitas razões pelas quais eu não quero voltar a morar no Brasil, mas uma delas, talvez a principal, é o meu filho. A mulher dele é americana e escreve para o The New York Times. É uma profissão muito difícil de mudar de um país para o outro. Ele é engenheiro de software aqui em Nova York, uma cidade com muitas oportunidades. Então, ele não pensa em mudar para o Brasil. A gente vai ficar por aqui.
Qual a sua relação com Princeton atualmente?
Estou aproveitando o fato de ser professor emérito. Eu não trabalho e eles não me pagam, mas tem outras coisas práticas que me ajudam. O seguro de saúde dos Estados Unidos é muito complexo, horrível, complicado. E o professor emérito de Princeton tem um seguro saúde. Aqui nos Estados Unidos essa é uma questão prática importante. Se eu estivesse na França, na Inglaterra, em Portugal isso seria menos importante. Uma das razões porque esperei até ter idade para me tornar emérito foi essa.
“Fui orientador de um Prêmio Nobel de Economia” – Época NEGÓCIOS
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